Duhalde irá ficar pouco menos de dois anos na Presidência, cumprindo o restante do mandato do ex-presidente Fernando de la Rúa até 10 de dezembro de 2003. Sua posse deve acontecer nesta quarta-feira, por volta do meio-dia (13h no horário de Brasília).
Mesmo assim, a escolha de Duhalde não foi consensual dentro de seu próprio partido, o peronista. Alguns nomes expressivos do peronismo, como o governador de Santa Cruz, Néstor Kirchner, defendiam a realização de eleições diretas para a escolha do presidente, após a renúncia do interino Adolfo Rodríguez Saá, no último domingo.
As eleições presidenciais previstas para março de 2002 -marcadas pela Assembléia Legislativa após a renúncia de De la Rúa, em 20 de dezembro- ficam canceladas.
Antes mesmo de ter sido confirmado como novo presidente da Argentina, Duhalde teria dito a deputados de seu partido, o Justicialista, que levará adiante “um governo peronista”. Apesar disso, seu gabinete ministerial deve contar com nomes da UCR (União Cívica Radical, do ex-presidente De la Rúa) e da Frepaso (Frente País Solidário).
Além disso, explicou aos parlamentares que estará pronto para anunciar na próxima sexta-feira um programa econômico cujas medidas estão sendo elaboradas por técnicos do partido, liderados por Jorge Remes Lenicov, virtual chefe da equipe econômica do governo Duhalde, segundo informa o jornal “Clarín'. O feriado bancário que vigora no país pode ser estendido até o dia 7 de janeiro.
Duhalde teria também assegurado a parlamentares peronistas que manterá a suspensão do pagamento da dívida externa do país -medida adotada pelo ex-presidente interino Rodríguez Saá.
Especula-se que uma das principais iniciativas a serem adotadas pelo novo presidente para tirar o país da grave crise em que se encontra seria a conversão para pesos das dívidas expressas em dólar -a chamada “pesificação” dos débitos-, o que representaria perdas para credores na moeda americana caso a divisa argentina venha a ser desvalorizada.
Uma das opções que vêm sendo cogitadas como possível medida para desvalorização do peso seria a formação de uma cesta de moedas composta pelo dólar, euro e real. Isto representaria uma redução no valor do peso de cerca de 40% em relação ao dólar. A partir daí, a moeda argentina flutuaria de acordo com essas divisas para garantir maior competitividade aos produtos argentinos de exportação.
Por outro lado, há informações de que a moeda argentina venha simplesmente a ser desvalorizada em cerca de 40% e, após isso, seria retomado o sistema de paridade entre o peso e o dólar que caracteriza a política econômica do país há 10 anos. Porém, no caso, a paridade passaria de ser de 1,40 peso para cada dólar.
Para possibilitar um choque de confiança entre a população do país, Duhalde pode propor uma saída ordenada do chamado “corralito” financeiro -sistema que limita os saques bancários a 1.000 pesos ao mês, adotado por De la Rúa para evitar a fuga descontrolada de divisas dos bancos- com um plano de devolução escalonada dos depósitos.
Outra intenção dos economistas de Duhalde é lançar um plano de reativação do consumo sem temor de uma futura desvalorização do peso. Para isso, seriam adotados estímulos fiscais ao setor produtivo, aumento da emissão de bônus e fixação de garantias aos poupadores para que seu dinheiro não perca valor nos bancos.
Além disso, estaria prevista a criação um Ministério da Produção, cujo titular pode ser Ignacio de Mediguren (da UIA – União Internacional de Arquitetos).
5º presidente em 12 dias
A renúncia do ex-presidente De la Rúa no dia 20 de dezembro de 2001 provocou uma inusitada crise política no país que gerou a passagem de cinco diferentes nomes pela Presidência em apenas 12 dias.
Além do próprio De la Rúa, ocuparam o cargo de presidente do país neste período: o presidente interino do Senado, Ramón Puerta (que ficou dois dias à frente da Presidência e que chegou a renunciar a uma segunda nomeação); o governador da província de San Luis, Rodríguez Saá (sete dias no governo); o presidente da Câmara, deputado, Eduardo Camaño (desde segunda-feira à tarde no cargo); e, agora, Eduardo Duhalde.
Volta por cima
Derrotado nas eleições presidenciais de 1999, quando obteve 38% dos votos, contra os 48% de De la Rúa, Duhalde consegue seu objetivo de chegar à Presidência de forma indireta e por apenas dois anos.
Duhalde começou sua carreira política como vereador de sua cidade natal, Lomas de Zamora, na Grande Buenos Aires, tendo sido eleito prefeito da localidade em 1983. A seguir, em 1987, concorreu e venceu a disputa por uma cadeira na Câmara Nacional.
Foi vice-presidente de Carlos Menem entre 1989 e 1991, quando deixou o cargo e foi eleito governador da província de Buenos Aires. Governou por dois mandatos, até 1999, quando tentou a Presidência do país.
No ano passado, Duhalde foi um dos senadores mais votados nas eleições legislativas de outubro, obtendo 37,5% dos votos da província de Buenos Aires.
Duhalde foi também advogado e escrivão público. É casado com Hilda González de Duhalde e tem cinco filhos.