Londres – A maior parte da América Latina deverá enfrentar mais um ano difícil, com os países da região ainda sendo negativamente afetados com o desaquecimento econômico nas potências ocidentais, particularmente nos Estados Unidos. Esse fator, aliado à crescente competitividade, rápidas inovações tecnológicas e consumidores mais exigentes, poderá alterar ambiente de negócios da região. A previsão é da consultoria Economist Intelligence Unit (EIU), que divulgou hoje a nova edição de seu guia para a América Latina, “Latin America at a Glance 2002”, destinado a empresas que operam na região.
Segundo a EIU, o crescimento médio na América Latina em 2002 será de 1%, após ter sido nulo no ano passado. A média de crescimento entre 2001 e 2006 deverá ser de 2,9%. A crise argentina vai continuar tendo um impacto negativo sobre a região. Mas a consultoria salientou que a avaliação do mercado em relação ao Brasil, “que deveria ter sido uma grande vítima da crise argentina , melhorou consistentemente e o governo brasileiro já emitiu bônus soberanos neste ano”.
A EIU prevê que a economia brasileira vai crescer 2,5% em 2002. “Desde que a economia norte-americana se recupere e que o Brasil não seja afetado por um agravamento da situação na Argentina, os mercados financeiros do país, em especial o mercado cambial, vão se tornar menos voláteis, criando as condições para uma recuperação econômica no segundo semestre deste ano.” Além disso, o fim do racionamento energético vai ajudar o setor industrial a iniciar uma recuperação, que deverá se tornar mais vigorosa em 2003.
O estudo salienta, no entanto, que a queda dos fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) para o Brasil neste ano poderá limitar a demanda doméstica e forçar um ajuste contínuo da conta corrente. Já em 2003, “condições mais favoráveis na economia mundial e nos mercados financeiros vão permitir ao Brasil obter um crescimento mais elevado”. “O relaxamento monetário e o crescimento da taxa de emprego e dos ganhos reais deverão sustentar um fortalecimento da demanda doméstica em 2003”.
Outros
A economia chilena também parece ter escapado do contágio argentino, uma avaliação reforçada pela recuperação dos preços do cobre no mercado internacional. “Entretanto, a demanda doméstica no Chile continua fraca, o desemprego elevado e os bancos estão cautelosos nas operações de extensão de crédito.” Segundo o estudo, o país vai registrar um crescimento pouco superior a 2% em 2002, bem distante das taxas registradas durante a década na década de 80.
O México, que é o país latino-americano mais exposto ao ciclo econômico dos Estados Unidos, “deverá emergir lentamente da recessão ancorado na recuperação do mercado norte-americano”. Na avaliação da consultoria, as baixas taxas de juros do país vão compensar parcialmente o impacto do maior aperto fiscal previsto na reforma tributária aprovada pelo congresso mexicano neste ano. Na região andina, uma “recuperação econômica na escala necessária para aliviar as pressões sociais” não deverá se concretizar. A EIU acredita que, enquanto o Peru e Equador deverão ter uma fase “de alívio de suas recentes crises políticas e de leve recuperação econômica”, a Colômbia e Venezuela enfrentarão “sérios desafios”.
Segundo a consultoria, a polarização política e econômica na Vezenuela está se tornando mais aguda”. Com a expectativa dos preços dos petróleos caírem ainda mais, “o risco de uma crise no país é significante”. Na Colômbia, as atenções estarão voltadas para as eleições para o Congresso e presidenciais, respectivamente em março e maio. A EIU diz que o presidente Andrés Pastrana, cujo mandato termina em agosto, conseguiu conter a deterioração econômica que marcou a administração de seu antecessor, Ernesto Samper. “Mas a sua prioridade de governo, que era a de encerrar com a ação da guerrilha, parece distante de ser alcançada.”
João Caminoto