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Sobe a cotação do País no mercado internacional

O prêmio de risco pago pelos títulos da dívida externa brasileira no exterior (C-Bonds), que é o termômetro da confiança dos investidores no País, atingiu ontem o menor nível em 12 meses. Ao longo do dia esse indicador chegou a ficar abaixo de 700 pontos, mas fechou em 717 pontos, um nível ainda considerado elevado. Esse recuo, no entanto, vem se consolidando nos últimos dias e espelha, segundo economistas, a reversão dos fatores negativos que levaram esse indicador a atingir o pico de 1.256 pontos em 8 de outubro do ano passado. Naquela época, o racionamento de energia, os temores sobre o contágio da crise argentina e o desaquecimento da economia mundial afetavam negativamente a expectiva dos investidores.

“Hoje o quadro mudou e tudo joga a favor do País”, observa o economista-chefe do Lloyds TSB, Odair Abate. Além do fim do racionamento, do contágio limitado por causa da crise argentina e o fato de a economia mundial já dar sinais de recuperação, o economista destaca que o País avançou estruturalmente. Os fundamentos fiscais estão mais sólidos, a economia brasileira foi colocada em perspectiva positiva pelas agências internacionais e o desempenho da balança comercial melhorou, ainda que os índices de inflação estejam acima do previsto e que existam embates políticos, pondera.

Pesquisas – Na análise do economista da Tendências Consultoria Integrada, Fábio Fukuda Marques, o que ajudou a potencializar esse quadro favorável, que já vinha sendo delineado, foi a divulgação de pesquisas eleitorais apontando o avanço do candidato do governo. Isso garante, de certa forma, ao investidor externo a continuidade do quadro atual. Fukuda, ressalta, porém, que até as eleições o cenário será bastante volátil.

De toda forma, o mercado já traduz em números essa expectativa favorável. A taxa de juros de um ano no mercado futuro, que é de fato o custo de captação pago pelos bancos, está hoje em 18% e é inferior à taxa básica do Comitê Política Monetária (Copom) de 18,75%. “Essa redução no risco Brasil somada ao cenário eleitoral mais favorável garantem a continuidade da recuperação da atividade no segundo trimestre, iniciada desde o fim do ano passado pela recomposição de estoques”, diz o diretor do banco Inter American Express, Marcelo Allain. Números da produção industrial divulgados ontem pelo IBGE confirmam esse movimento (ver abaixo).

Atividade – O impacto direto da melhora do risco Brasil na economia real é a queda nos juros. Fukuda explica que, com risco menor, fica mais fácil captar recursos no exterior e o dólar reflui, como está ocorrendo agora. Ontem a moeda americana fechou cotada a R$ 2,35, mas chegou a ser cotada a R$ 2,32 ao longo do dia, e vem se mantendo nesse patamar. Com isso, explica o economista, a pressão sobre os índices inflacionários se reduz e abre-se uma janela de oportunidades para o corte nos juros básicos.

Allain vai mais além do que Fukuda. Para ele, esse cenário favorável poderá propiciar um a redução mais significativa no custo do crédito ao consumidor, acentuando uma tendência gradual registrada nos últimos dois meses. Esse corte, destaca o economista, impulsionaria diretamente as vendas a prazo e a recuperação da atividade a partir do mercado interno, revertendo, assim, o quadro que prevaleceu no ano passado. Allain observa também que, a despeito de a renda real estar contida, a recuperação, num primeiro momento, viria por meio da manutenção do nível de emprego. “Não acho que vá ocorrer um boom acentuado, mas é o início de um ciclo virtuoso”, diz Allain.

Fukuda diz, no entanto, que o mercado espera a continuidade do corte da taxa de juros ao longo deste ano. Mas, segundo ele, o ritmo das reduções será dado pela evolução do cenário político doméstico.

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