Varejistas do RJ atacam taxas de cartão de crédito
Os empresários varejistas do Rio querem que o governo investigue as taxas das administradoras de cartões de crédito, que variam hoje de 3% a 6%. Pressionada pelas reclamações dos comerciantes, a Associação dos Lojistas de Shopping Centers do Rio (Aloserj) enviou sexta-feira um ofício ao Secretário de Acompanhamento Econômico (Seae), Claudio Considera, pedindo que verifique o sistema de cobrança das taxas e o seu peso nos preços dos produtos.
Segundo o secretário-executivo da entidade, Gilberto Catran, as taxas cobradas vêm forçando os varejistas a adotarem dois preços: um à vista, com desconto de até 10%, e outro com cartão, exposto na mercadoria. A redução para o pagamento na hora é negociada com o vendedor, uma prática irregular já que, pelo contrato com as administradoras, os preços à vista e com cartão devem ser iguais.
Os consumidores que negociam acabam comprovando os juros embutidos no crediário em três ou quatro vezes. Foi o que constatou a professora Lídia Santana numa loja de bolsas da Rua Gonçalves Dias. Um modelo de couro cru estava por R$ 165 ou em duas vezes no cartão. Pagando na hora, ela levou por R$ 151 ” cerca de 10% menos.
” Se as taxas caírem, os preços vão baixar. É o que se vê nos postos de gasolina que não aceitam cartão ” diz Catran.
Cerca de 30% das lojas têm dois preços
Como reação, há lojas preferindo vender com o pré-datado, que hoje representa 71% dos cheques movimentados no Rio ” índice 7% maior que o do no início de 2001, segundo a última pesquisa do TeleCheque. Entre as lojas está a Corpo e Alma, que oferece a venda com pré-datado em duas vezes (a partir de R$ 60) ou em três, sem entrada (a partir de R$ 90). Já a compra com cartão é aceita acima de R$ 200.
” Os clientes têm aproveitado o pré-datado ” admitiu Poliana Dias, gerente da loja.
Paralelamente ao pedido à Seae, a Aloserj iniciou contatos com os órgãos de defesa do consumidor para discutir uma estratégia que beneficie o consumidor e não prejudique o lojista. Catran lembrou que, nos Estados Unidos, a mobilização das ONGs de consumidores e entidades de lojistas conseguiu reduzir as taxas de administração dos cartões, que hoje variam de 1,5% a 2%.
” Aqui, os pequenos lojistas pagam as taxas maiores porque têm menos poder de barganha. Estimo, por isso, que de 20% a 30% já ofereçam descontos à vista ” disse.
Segundo um técnico do governo, a tendência de cobrança de preços diferentes para pagamentos à vista e com cartão de crédito é uma maneira de tentar forçar uma queda nas taxas cobradas pelas administradoras de cartões. Isto porque, segundo ele, se os preços ficassem mais baixos à vista, os consumidores usariam menos o cartão. No entanto, o técnico alertou que esta medida não seria positiva para o próprio comércio.
” No pagamento com cartão, a loja tem a garantia do pagamento. Se houver inadimplência, o problema será tratado entre a administradora e o consumidor ” explicou.
Administradoras são investigadas desde 2001
O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Claudio Considera, informou, na sexta-feira, que ainda não tinha recebido a carta enviada pelos representantes do comércio do Rio na qual eles solicitam providências sobre as taxas das administradoras de cartão. A Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE) e Secretaria de Acompanhamento Econômico investigam as administradoras, desde novembro de 2001, por abuso de poder econômico no setor de combustíveis pela cobrança da mesma taxa de 3%. Se forem encontrados indícios de que elas se aproveitam de uma posição dominante para cobrar taxas mais altas, será instaurado processo administrativo.