Não é só a sucessão presidencial que anda preocupando o investidor estrangeiro elevando o risco do Brasil. A vulnerabilidade externa (o que o País tem a pagar no final do ano e sua capacidade de honrar essa dívida) sempre volta à cena em ano eleitoral. O balanço de pagamentos de um país pode ser comparado a uma espécie de conta-corrente. Nela são computadas não só as saídas (o que o país tem a pagar) mas também as entradas (o que o país tem a receber). Quando as entradas superam as saídas não tem problema: é sinal de que ele encontra-se em boas condições econômicas. O contrário é que preocupa: significa que o País tem mais a pagar do que a receber. No caso do Brasil foi isso que o empurrou ano passado para um novo saque no Fundo Monetário Internacional, o FMI. Faltava dinheiro para fechar a conta. Esse ano a situação é melhor, garantem economistas.
O déficit em conta-corrente (pagamento de juros de dívidas externas do governo e de empresas, gastos com turismo e remessa de lucro ao Exterior, menos o saldo da balança comercial) está aproximadamente em US$ 23 bilhões. Apesar de melhor do que em 2001- em março último correspondia a 3,88% do PIB e em março de 2001 era de 4,74% – ainda é um número alto, que o investidor leva em conta antes de colocar o seu dinheiro no País.
Boas notícias – A boa notícia neste ano é que o governo aguarda entrada de investimento direto estrangeiro (dinheiro vindo de fora para a compra de empresas nacionais, ou injeção de recursos em filiais brasileiras) entre US$ 18 bilhões e US$ 20 bilhões. Isso significa que só o investimento direto poderá servir para fechar as contas. Há ainda um crédito de U$S$ 4 bilhões que o Brasil pode sacar do FMI. “O tema vulnerabilidade externa do País sempre volta à cena em ano eleitoral. Não que o nível de endividamento do Brasil não seja alto. Mas o País tem condições de financiar essa dívida”, diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor do Departamento de Economia da PUC-SP e presidente da Sociedade Brasileiras das Empresas Transnacionais.
Desafios – O mercado financeiro tem à frente mais uma semana de desafio. A atenção deve estar centrada na decisão do Copom e também na divulgação de novas pesquisas eleitorais. Na semana passada, o mercado financeiro não seguiu uma tendência definida. Os negócios em bolsa tiveram queda, enquanto se aguardava a divulgação da pesquisa sobre a corrida presidencial. E ela veio terça-feira, mostrando uma arrancada do candidato Lula e um empate técnico entre Serra, Garotinho e Ciro Gomes. Tudo aquilo que o investidor parecia mais temer. E o que aconteceu? A bolsa respondeu com alta de mais de 1%. Mais um indício de que o mercado não funciona totalmente com base na racionalidade.
Adriana Gavaça